Para José Regino, o corpo cômico é todo corpo construído
e pensado com objetivo de provocar o riso. Atualmente, ele trabalha com um novo conceito que antecede a
construção do corpo cômico. É a presença cômica. Aquele momento em que o
riso acontece, não necessariamente sustentado pela palavra, mas por meio de uma
ação ou de uma reação. O momento em que a simples presença do ator/comediante provoca
o riso. Para entender melhor como isso acontece o Zé propõe uma nova pesquisa: a
presença cômica e o silêncio que antecede a palavra. Assim, esses dois momentos
serão trabalhados e pesquisados separadamente para entender melhor a construção
do corpo cômico.
Na prática, sem a construção consciente do corpo cômico, o riso pode acontecer de
forma espontânea. Muitas vezes, o ator se surpreende e pode até repetir ou
tirar proveito disso. Mas infelizmente o ator muito pouco conceitua os procedimentos cômicos ou as condutas
cômica utilizadas. Esses
conceitos e técnicas da comicidade são visto pelo senso comum como um aptidão,
um talento nato, não como uma técnica que pode ser apreendida, estudada. Muitas
vezes a pesquisa nessa área é encarada como uma atividade que pode travar ou
limitar o desempenho de um ator cômico. José Regino fala bastante desse assunto
na sua dissertação de mestrado: “Dramaturgia
da ação cômica: o desempenho do ator na construção do riso”. Ele acredita que é
possível unir a pesquisa teórica e prática para definir e aprofundar o uso das condutas
e os procedimentos cômicos. Mas isso requer uma observação um treino, um
estudo, um experimento intenso.
Ele aponta que em 1986 sob a luz do “Teatro
Antropológico” de Eugênio Barba e seus colaboradores, ele começava a enxergar
os caminhos para a construção do corpo cômico: “A criação de um “espaço” interno onde se encontram possibilidades que
ocorrem além ou fora do padrão, do que é previsível. Onde o corpo é treinado
além de conceitos culturais ou rótulos e definição, onde se rompe com a sua
própria natureza física para se alcançar a natureza da sua própria criação.
Este espaço do vazio que se amplia, para gerar espaços de ocupação autêntica”.
José Regino também
aponta nessa caminhada para constução do que seria para ele o corpo cômico o seu
encontro com o Lume Teatro e o que eles chamam de contato com o estado do ridículo. O importante na cena
não é o que se faz, mas como se faz.
Mais tarde em
contato como Mestre Zezito, José Regino entende que o palhaço deve fazer parecer
difícil o que é fácil e o que é fácil deve parecer difícil. Em outras palavras,
é o que ouve-se dizer comumente sobre o palhaço: o palhaço vê o mundo ao contrário.
Ou: A lógica do palhaço é invertida. E essa inverção da lógica real feita pelo
palhaço é fundamental para entender a construção do corpo cômico.
José Regino aponta que o pensamento do corpo cômico vem de
maneira complementar e antecede a definição das espécies de comportamento
cômico realizadas em sua dissertação de mestrado. Estas são baseada em Freud,
no livro “Os Chistes e sua relação com o Inconsciente” no capítulo: “espécies
do cômico” onde Freud aponta condutas e procedimentos que proporcionam o
surgimento do riso. Freud chama de espécies
do cômico. São elas: cômico da situação, desmascaramento, paródia,
raciocínio falho, justaposição simultânea, disfarce, travestimento, ironia,
ingênuo, nonsense, absurdo, empréstimo cômico, personificação, formas
corporais, traços faciais, sexualidade, obscenidade, mímica, expectativa,
abstração, contraste qualitativo e personificação. Em sua dissertação Zé
analisa melhor essas espécies de cômico à partir da montagem do seu espetáculo
Bagulhar.
José Regino vem trabalhando em oficinas esses temas e
tem observado que esses tipos de corpo cômico podem ser chamado de caricaturas,
ou corpos caricatos. O palhaço seria um exemplo disso. Mas em sua pesquisa ele
também abrange o trabalho do comediante e o ator cômico .