Um
conceito citado por Zé Regino, quando das primeiras observações que fizemos do
processo, foi o da não espetacularização. Ele nos disse que atualmente buscava
a não espetacularização nos seus
trabalhos de teatro. Perguntamos o que isto significava para ele e a resposta
que nos deu foi a de que procurava criar cada vez mais um teatro próximo de
quem o assiste, acessível. Como aconteceu quando sua companhia apresentou
"Sonho de Uma Noite de Verão" em uma escola e a professora que até
então havia alimentado o desejo de montar uma peça de Shakespeare com seus
alunos mas acreditava não ser capaz de realizar tal feito, os confessou que
depois de assistir àquela apresentação percebeu que sim, seria possível. Ou
seja, a não espetacularização seria um teatro que se coloca ao alcance do
espectador, no âmbito do fruição e da produção.¹
Outro
ponto importante na trajetória do diretor e presente também na montagem que
estamos observando, é a narrativa.² Ele comentou conosco que prefere que uma
pessoa, após assistir ao seu espetáculo,
não concorde com nada do que viu do que diga que não entendeu. Isto parece
justificar a sua opção pela narrativa, que se constrói nessa montagem com quase
nenhuma palavra. As músicas cantadas à capela, as ações físicas dos atores, os figurinos e os
cenários nos contam todas as informações necessárias para embarcarmos com a
nossa imaginação na história.
É interessante notar que nessas duas opções
estéticas (a não espetacularização e a narrativa) existe uma preocupação em tornar o teatro
acessível, no sentido de que quem o receba não o veja como algo distante de sua
capacidade de fruição e realização e/ou perceba as pessoas que fazem parte
daquilo como seres "eleitos". Isso nos remete a uma frase de Amir
Haddad onde ele diz que "o teatro é a magia sem mistério", nos lembrando
que o belo nessa arte pode ser muito mais potente quando é também político, de
igual para igual, em sua forma de se apresentar.
¹ Este termo não se
encontra no "Dicionário de Teatro de Patrice Pavis", nem no "Ler
o Teatro Contemporâneo" de Jean-Pierre Ryngaert, ou no "Léxico de
Pedagogia do Teatro" de coordenação de Ingrid Dormien Koudela e José
Simões de Almeida Junior. Então resolvemos investigar a palavra em si, e o que
encontramos no Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa- 5º edição, foi:
Espetacularização:
1.ato ou efeito de espetacularizar.
Espetacularizar:
1.Dar caráter de espetáculo a.
Espetáculo:
1.Tudo que chama a atenção, atrai e prende o olhar.
² Narrar:
1.Expor minuciosamente.( Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa- 5º edição)
E
qual seria a outra forma de se falar através do teatro, que não a narrativa?
Ficamos nos perguntando, e este será assunto para o próximo post.
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