sábado, 17 de outubro de 2015

Conversas e Reflexões II - Sobre a Não Espetacularização e a Narrativa no Teatro de Zé Regino

Um conceito citado por Zé Regino, quando das primeiras observações que fizemos do processo, foi o da não espetacularização. Ele nos disse que atualmente buscava a não  espetacularização nos seus trabalhos de teatro. Perguntamos o que isto significava para ele e a resposta que nos deu foi a de que procurava criar cada vez mais um teatro próximo de quem o assiste, acessível. Como aconteceu quando sua companhia apresentou "Sonho de Uma Noite de Verão" em uma escola e a professora que até então havia alimentado o desejo de montar uma peça de Shakespeare com seus alunos mas acreditava não ser capaz de realizar tal feito, os confessou que depois de assistir àquela apresentação percebeu que sim, seria possível. Ou seja, a não espetacularização seria um teatro que se coloca ao alcance do espectador, no âmbito do fruição e da produção.¹
Outro ponto importante na trajetória do diretor e presente também na montagem que estamos observando, é a narrativa.² Ele comentou conosco que prefere que uma pessoa, após assistir ao  seu espetáculo, não concorde com nada do que viu do que diga que não entendeu. Isto parece justificar a sua opção pela narrativa, que se constrói nessa montagem com quase nenhuma palavra. As músicas cantadas à capela,  as ações físicas dos atores, os figurinos e os cenários nos contam todas as informações necessárias para embarcarmos com a nossa imaginação na história.
 É interessante notar que nessas duas opções estéticas (a não espetacularização e a narrativa)  existe uma preocupação em tornar o teatro acessível, no sentido de que quem o receba não o veja como algo distante de sua capacidade de fruição e realização e/ou perceba as pessoas que fazem parte daquilo como seres "eleitos". Isso nos remete a uma frase de Amir Haddad onde ele diz que "o teatro é a magia sem mistério", nos lembrando que o belo nessa arte pode ser muito mais potente quando é também político, de igual para igual, em sua forma de se apresentar.


 ¹ Este termo não se encontra no "Dicionário de Teatro de Patrice Pavis", nem no "Ler o Teatro Contemporâneo" de Jean-Pierre Ryngaert, ou no "Léxico de Pedagogia do Teatro" de coordenação de Ingrid Dormien Koudela e José Simões de Almeida Junior. Então resolvemos investigar a palavra em si, e o que encontramos no Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa- 5º edição, foi:  
Espetacularização: 1.ato ou efeito de espetacularizar.
Espetacularizar: 1.Dar caráter de espetáculo a.
Espetáculo: 1.Tudo que chama a atenção, atrai e prende o olhar.

²  Narrar: 1.Expor minuciosamente.( Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa- 5º edição)
E qual seria a outra forma de se falar através do teatro, que não a narrativa? Ficamos nos perguntando, e este será assunto para o próximo post.
  

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