sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Conversas e Reflexões III - Narrativa / linearidade


O eixo aqui proposto para reflexão tem como objetivo alinhar  os elementos narrativos criados pelo diretor José Regino, e grupo Celeiro das Antas  na escrita cênica de “Domingo sem Chuva”. Como também  estabelecer os materiais  “contraditórios”  no processo de nossa observação.

Num primeiro momento podemos  afirmar que, apesar da narrativa se estruturar em blocos seguindo a  temática  da “velhice”, a linearidade se preserva na apresentação da temática, na construção das personagens principais: que é um casal que  é posto no asilo pela filha e genro, quando a mãe apresenta os primeiros sinais de Alzheimer e o pai com a doença de Mal de Parkinson.
É uma estrutura linear simples, não há narrativas paralelas, os protagonistas se mantém, apenas alguns recortes são realizados com  o objetivo de situar o asilo como local onde se apresentam os “tipos” comuns, e que são apresentados nas cenas de “passagem”.  Cenas que na transcrição de nosso material, denominamos como cenas de “transição”. Quando questionamos a denominação destas cenas para o ator e diretor musical João Veloso, ele nos explicou, que as cenas  apenas foram criadas para apresentar o cotidiano de um asilo.
Nesta apresentação, usaremos apenas a denominação de cenas de “passagem” para contrapor com as cenas das “longevas”.


1- O surgimento da temática:

A partir de uma provocação do diretor   ao grupo; de se  construir personagens  “idosos”  em ações para  realização de  uma troca de lâmpada. 
Percebeu-se, este,   que no improviso dos atores, as ações de fragilidade das personagens provocavam o riso, e portanto  funcionaria  para o trabalho de comicidade.


2- Primeiro Argumento:

A partir desta ideia, o diretor criou  uma história onde 4 amigos ainda na fase da juventude se encontram no Reveillon de 1954. A partir de um  corte temporal,  a cena retorna para o tempo atual, apresentando o momento de velhice destas personagens. 
Percebemos que há um efeito quase cinematográfico, quando há  a interrupção da cena inicial dos amigos no Reveillon para  o cotidiano do casal já envelhecidos, entremeados com as cenas do cotidiano do asilo que apontam para o desfecho final: reencontro trágico-cômico  dos amigos no asilo.

3-  Pequenos Blocos Narrativos:

Os blocos narrativas, que também não é uma definição final, são as cenas que entremeiam a narrativa principal, e cujo objetivo é apresentar o cotidiano do asilo. Em nossa observação, denominamo-as  como cenas de “transição” apenas para leitura e transcrição do nosso material.
Apesar destes blocos apresentarem uma estrutura próximo as cenas  de esquetes, ainda, preferimos não conceituá-las deste modo para evitar a redução  na observação e, poder assim ampliar a compreensão da estrutura narrativa elaborada pelo grupo.

4- Signos Narrativos:

Há na estrutura narrativa, alguns signos que encadeiam as cenas, como por exemplo:

a) O objeto balão:
1-    que é utilizado na cena das “longevas”, fazendo referência a ornamentação do asilo para a festa junina;
2-    também usado na cena  de “passagem”  onde dois homens idosos utilizam a escada para colocar o enfeite do balão (que foi a cena-mote que deu início a todo processo com a provocação da troca de lâmpada).
b) As músicas que marcam cenas específicas, e sons que provocam atmosferas de tensão; como pro exemplo: A batida de coração quando a mãe começa a apresentar os primeiros sinais de Alzheimer.



5- As "Longevas" : Palhaços Transvestidos
Há na estrutura  duas cenas que estamos denominando como:
      Longevas na reza;
      Longevas preparando a festa junina.

Cenas estas que segundo a minha observação não seguem as mesmas características das cenas de “passagem” que apresentam personagens como tipos comuns: o velho rabugento, a fisioterapeuta impaciente, o velho conservador, o avô paciente e o neto revoltado. Nas cenas de “passagem” o elemento cômico se estrutura na fragilidade da velhice. Diferente das cenas das “longevas” cujos  personagens se apresentam como  palhaços transvestidos e,  a fragilidade se aproxima mais da caricatura do que se é frágil.  No entanto, mantém o mesmo objetivo das cenas de “passagem”: apresentação do cotidiano do asilo e provocar comicidade.
Ainda há necessidade de outras observações, discussões em grupo  para uma melhor entendimento e definição destes personagens e função da cena.

7- Conclusão:
É importante ressaltar, que  com a captação do material de observação, e a nossas próprias observações,  estamos agora caminhando para a fase de discussões deste material, para melhor definição e categorização dos eixos temáticos.  

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