domingo, 8 de novembro de 2015

Conversas e Reflexões IV - Sobre a FOTOsSÍNTESE.

Seria um FOTO que é SÍNTESE da personagem. José Regino em uma conversa com o nosso grupo fala como foi o processo de organização dessa idéia mencionada por ele diversas vezes nos ensaios com seus atores. José Regino conta que já escutou essa de noção de síntese em imagem em  situações diferentes durante sua vida: no trabalho de arte educação, no trabalho do Lume Teatro, em cursos e trocas com outros palhaços. Diz que percebeu também que essa noção geralmente faz parte de uma narrativa dramática. Nos anos 80, quando ele trabalhava com arte educação escutou de uma professor que quando uma aluno consegue construir uma foto que sintetize um tema, mesmo em exercício, isso faz com que ele aprofunde a visão sobre o que está sendo trabalhado. Nesse sentido, eram trabalhados vários exercícios com os alunos: fazer uma cena à partir de uma foto, texto, imagem ou de um quadro e vise versa.
José Regino observou também esse recurso de fotografia como síntese em outras linguagens, outras narrativas, filmes. Percebeu que uma imagem age como um recurso para lembrar ao público o ponto de vista daquela personagem, quem ela é, a origem, a situação da personagem na narrativa.  Depois, durante treinamentos de palhaço, tanto com Lume e com o Marcio Libar, sempre escutava: “entre em cena e não faça nada.” Com o tempo e na prática da palhaçaria ele foi entendendo que não existe “não fazer nada”, pois ele acredita que toda ação é carregada de intenção. Entendeu que “entrar em cena para fazer nada” é no mínimo entrar em cena para ver e deixar ser visto.
Mais tarde, fazendo estudo sobre atuação cômica, reparou que alguns atores sempre usavam esse recurso de retomar o estado inicial da personagem durante as cenas. Ele entendia como um recurso proposital para a audiência não esquecer quem é o personagem, a origem, qual foi a introdução dele no drama. Observou esse recurso sendo utilizado em cenas televisivas e cinematográfica, como a antiga TV Pirata e nas narrativas dos filmes do Charles Chaplin. Chamava-lhe a atenção a forma como Chaplin introduz e exibe a figura do Carlistos na narrativa. Pensou em usar esse recurso nos seus trabalhos, pois se o palhaço entrar com a imagem síntese de quem é ele, ele também  pode lançar mão da síntese em imagem em momentos específico e a plateia nunca vai esquecer quem é ele. Em “Quero ser igual à ele” foi a primeira vez que o Zé começou a usar esse recurso conscientemente e propositalmente. Na prática do espetáculo notou que esse recurso funcionava muito bem. A plateia entende e reconhece de imediato a figura. Atualmente ele reconhece que em qualquer trabalho que ele faz, sempre usa a técnica da FOTOsSÍNTESE da personagem no estado inicial da narrativa, como também usa outras imagens que sintetize as transformações que a personagem vive ao longo da narrativa.  Com isso ele percebe que as expressões e movimentações dos personagens fazem mais sentido e ganham mais organicidade.
A palavara FOTOsSÍNTESE veio quanto Zé estava estudando sobre recuperação de plantas, para cuidar de suas plantas domésticas.  Ele viu que é importante para as plantas se recolherem, serem podadas para que seja possível fazer a fotossíntese plenamente o tempo inteiro. Então, a fotossíntese  intendida como um processo biológico de troca entre a planta e o meio externo serviu como uma metáfora para o momento de exibição da personagem em uma imagem síntese para a audiência. Uma metáfora para o momento que o ator troca  com a audiência e reage de acordo com o jogo que irá estabelecer com a platéia. Foi quando ele deu o nome FOTOsSÍNTESE.

Nesse pesquisa, José Regino também percebeu a capacidade que a foto tem de sintetizar processos. Principalmente ao estudar a arte de grandes fotógrafos com Sebastião Salgado.Segundo ele, uma boa foto tem a capacidade de fazer uma síntese visual, estética de um momento e ao mesmo tempo a foto também amplia os significados em conceitos. Assim, para Zé Regino a FOTOsSÍNTESE busca também ir além do momento “fotografado”, como o resumo de um percurso no tempo e no espaço.

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