Observando o último ensaio realizado pelo Grupo Celeiro das
Antas, no dia 28 de outubro percebemos que algumas noções e conceitos
utilizados pelo Diretor José Regino são norteadores no seu trabalho. À partir
dessas observações, estamos identificando quais são os pontos chaves do
trabalho e aprofundando algumas
questões.
É notável que a musicalidade do espetáculo “Domingo sem Chuva”
é muito forte e marcante. Durante esses ensaios de lapidação e manutenção do
espetáculo, o grupo começa o trabalho com um aquecimento vocal e depois "passam" todo o repertório musical do espetáculo. Esse trabalho vocal inicial funciona como um
aquecimento para começar o ensaio. Apesar da fragilidade técnica musical dos
atores a musicalidade é desempenhada muito bem por eles, com as diversas funções
propostas nas cenas.Eles trabalham com a noção de grupo orquestra, usam ruídos,
sons, ambientações, usam linhas melódicas como subtexto, canção em cena, usam
músicas originais, músicas conhecidas, brincam em diálogos com frases
musicais.....Para entender melhor como a musicalidade do espetáculo é executada de forma tão diversa, iremos
aprofundar mais esse assunto e fazer um poste específico sobre as categorias de uso da musicalidade na cena.
Repetidas vezes o diretor parava uma cena para dizer para
os atores “Espera.... primeiro deixar ser vista”, principalmente quando era a
primeira vez que a personagem se apresentava ao público. Nesse momento me
recordei, imediatamente, do conceito de FOTOsSÍNTE que o diretor trabalha. Trata-se
de um momento de apresentação, ou reapresentação da personagem para o público, momento de respirar e de se deixar ser visto. Ele propõe, aos atores, uma atitude menos
pró-ativa e mais reativa. Nesse ponto, também tocamos em outra noção que o José Regino trabalha bastante: a reação como chave para a comicidade. O ator tem que dar
ênfase em reagir, pois é com a reação que ele vai mostrar o que está
acontecendo e estabelecer o jogo com a plateia. É importante não lidar como se tudo fosse
normal, sem reagir às ações. A Reação é a forma como atores/personagens
respondemos ao mundo.
O espetáculo não utiliza texto falado, contudo as
personagens principais possuem grande
complexidade emocional e psíquica, ao estilo stanislaviskiano. Mesmo que não
seja dito em texto, nos ensaios e apresentações, percebemos que os personagens tem nome, memória
dramática, emotiva e subtexto para cada ação. Na sua dissertação de mestrado,
José Regino pesquisou a construção do corpo cômico analisando os quesitos
cômicos apontados por Freud em comunhão com as técnicas de interpretação feitas por Stanislavisk. Essa é
um questão curiosa e que devemos aprofundar posteriormente. Quais foram as
técnicas utilizadas durante o processo criativo para a construção das
personagens?
Nesse último ensaio o Zé Regino definiu geograficamente o
espaço do tapete/espaço cênico. Ele delimitou, com um fita crepe no chão, um
retângulo onde seria o espaço das
personagens e das cenas. Fora desse tapete, ficam duas araras de roupas e
cadeiras onde os atores, de maneira distanciada e meta teatral, se vestem,
observam a cena, executam as músicas. Mesmo durante a narrativa da cena, se uma
ator sai do tapete para pegar um adereço, ele se distancia da personagem e só volta a ser personagem quanto o ator pisa o
pé no tapete novamente. Com esse espaço
cênico delimitado no chão, percebemos que o jogo teatral ficou muito mais claro para
a plateia, de que são atores fazendo teatro. À partir daí, José Regino também
sugeriu alguns momentos de quebra nesse jogo do tapete. Foram algumas cenas marcadas
no espetáculo em que um ator entra no tapete, olha para a plateia como ator,
percebe que tem que “entrar” na personagem e posteriormente monta o corpo da
personagem. Com essa brincadeira, eles enfatizam o jogo do tapete, proposto
anteriormente. Percebemos que a noção de fotossíntese e de reação também ficaram mais
marcantes na cena. Os atores parecem dizer à plateia: “Estamos fazendo
teatro. Eu sou um ator que estou fazendo a personagem tal. Vamos jogar?” Dessa
maneira eles convidam e re-convidam a plateia para o jogo da cena e a comicidade acontece.
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